PARTE III

PARTE III

 

Finalizei a PARTE II comentando que com 15 dias do meu retorno para minha cidade, perdi completamente a audição direita e logo resolvemos retornar à capital. Antes, minha mãe conseguiu o nome e contato de outro neurocirurgião. Não fazia mais nexo algum voltarmos ao que por último nos atendeu pois, mesmo com tanta fama, ficamos decepcionados com o atendimento e, principalmente pelo fato de eu ter perdido a audição, o que ele não havia nos alertado, presumido, sei lá! Mas naquele instante, eu não queria mais incertezas, eu buscava soluções. Lá, o médico que procuramos, reviu os exames e disse o mesmo que os demais, sobre não caber procedimentos cirúrgicos e os mesmos motivos, mas sugeriu uma alternativa: a radiocirurgia. (clique no link para saber mais sobre radiocirurgia:http://angioma.org/pages.aspx?content=168&id=240 ). Ainda muito abalado, e cheio de incertezas e por nunca ter ouvido falar nesse procedimento, o medo me consumia. Ele tentou explicar que era um procedimento muito usado em tratamentos oncológicos, um feixe de radiação emitido exatamente sobre o mini-tumor (benigno, no meu caso) que atrapalhava minha audição. Ele indicou também o nome do médico especialista para que o procurássemos e assim fomos.

Gostaria de ressaltar que neste momento eu não era o único a estar fortemente abalado com todo o acontecido. Minha mãe e irmão também estavam, muito embora tentassem me passar fortaleza. Ao conversarmos com este outro especialista, o qual notou nosso desânimo, tristeza e impaciência por soluções, ele nos falou que o procedimento poderia ser feito pelo SUS. E foi logo avisando, para alguém que estava definhando psicologicamente e lutava por soluções emergentes, que pelo SUS iria demorar muito. Mas “brilhantemente”, visto à minha pressa por buscar a cura, nos deu a solução de fazer o tratamento particular. Como o que estava causando minha perda auditiva era nos dois ouvidos, o que chamamos de “bilateral”, o especialista sugeriu fazer o procedimento nos dois ouvidos e nos daria um desconto. Pegou um papel, uma caneta e a calculadora e no final nos apresentou valores entorno de R$15.000 (quinze mil reais) à vista. Parcelado era maior. Esse valor, hoje já não é tão baixo. Imaginem 4 anos atrás! Ficamos “entre a cruz e a espada”, mas aceitamos a proposta do pagamento à vista. Diante de toda a pressão psicológica sofrida por nós, não atinamos para mais nada, a não ser, urgentemente fazer esta tentativa. Minha mãe, que como sempre nunca desampara os filhos, deu um jeito e conseguiu fazer um empréstimo. Mas antes de fecharmos negócio, conversamos novamente com o especialista (lembrem-se que eu, neste momento, só estava surdo do ouvido direito, neste eu não ouvia nada mesmo, eu ouvia perfeitamente pelo esquerdo, muito embora, o exame audiométrico apontasse uma diminuição no entorno de 4%) e ele nos afirmou em bom e alto tom que o que eu havia perdido no direito, eu não iria recuperar com a radiocirurgia, mas a audição esquerda, a qual estava supostamente intacta ainda, seria preservada, uma vez que com o tratamento à base de radiação, o caroço ou mini-tumor, não iria crescer, estaria morto e não me impediria de ouvir. Lógico que eu fiquei triste em saber que mesmo pagando todo este dinheiro, minha audição direita não iria ser recuperada. Mas como prêmio de consolo, tinha o fato de ele ter afirmado que eu não perderia a do lado esquerdo e por isso tive de aceitar.

Estávamos novamente hospedados na casa de seu Wilson e dona Olga, os quais sempre nos demonstravam solicitude. Dentre a primeira ida à capital, o retorno à minha cidade, e demais idas e vindas à capital ao dia do início e preparação do tratamento da radiocirurgia, já despontava o mês de agosto, findava julho de 2014.

Para preparação do tratamento, fui levado para uma sala, eu não conseguia identificar exatamente o que era aquela sala. Uma mistura de leito hospitalar com uma cozinha improvisada. Algo desse tipo. Lá, se encontrava uma equipe composta de médicos e um físico, que depois fiquei sabendo que a participação dele era primordial, visto fazer os cálculos exatos da localização dos mini-tumores, a fim de o feixe de radiação incidir exatamente no local. Mas para isso foi preciso que eu fizesse uma tomografia computadorizada. (clique no link para saber mais sobre tomografia computadorizada:http://: https://www.tuasaude.com/tomografia-computadorizada/ ). Ainda na sala que eu não sabia se era cozinha ou algo do tipo, algumas pessoas, numa espécie de fogão, preparavam algo. Pediram que eu me deitasse, isso me impediu de ver o que faziam e com o que faziam. Fiquei um tempo deitado esperando eles terminarem de fazer o preparo e foi quando percebi que estavam preparando uma máscara. Isso mesmo, uma máscara. Não sei qual foi o material exato usado, mas ainda morna, meio quente, colocaram por sobre meu rosto (incomodou, por está quente) deixaram por alguns minutos ao ponto de que ela enrijecesse. Depois fiquei sabendo que a utilização desta máscara era eficaz para ser usada na hora do procedimento radiocirúrgico, para prender meu rosto, a fim de que eu não me movimentasse, fazendo que que o feixe de radiação incidisse exatamente no local calculado pelo físico. E assim foi feito e, chegou o dia de fazer o procedimento.

A radiocirurgia era feita na ala oncológica e foi para lá que fomos. Ficamos na recepção desta ala junto com os pacientes próprios de lá. Pessoas lutando por suas vidas. Pessoas de lugares diferentes, com histórias distintas, com sofrimentos estampados nos seus rostos, umas acompanhadas, outras sozinhas. Hoje eu consigo enxergar por outro viés, mas no dia, aquilo me deixava ainda mais desesperado pois, eu tinha vários medos e ainda não entendia direito o que estava acontecendo comigo. Ver outros sofrendo e não presenciar a vitória deles e somente o sofrimento, aquilo me deixava pior. Sem falar que embora o especialista dizendo que eu não me preocupasse com o procedimento, eu tinha medo de que doesse, de sofrer. E chegou minha vez.

Ao contar para vocês, eu revivo os momentos, e não é fácil para mim. Mais para frente, em meus relatos, noutras abas, vou contar de minha superação, mas as marcas que tudo me deixou e que embora me sirvam de troféu, ainda são fortes para mim. Lá, a sala muito gelada, um frio tremendo, creio ser pelo tamanho, potência e política do uso do aparelho de radiocirurgia, o mesmo da foto no início dessa postagem. Fui deitado, colocaram a máscara sobre meu rosto, foram colocando placas ao redor que no final parecia que meu rosto estava dentro de uma caixa, exatamente como na foto acima no início. A mesma equipe que estava no dia do preparo da máscara, conversava e eu ouvia tudo perfeitamente, nesse dia, o procedimento estava sendo feito no ouvido que eu já havia perdido a audição. O especialista falou comigo e então, começou. Fiquei inerte por cerca de 20 minutos e eu não sentia nada, até parecia que não estava acontecendo nada. Mas devido ao meu abalo psicológico, aquilo para mim era uma tortura. Eu ficava impaciente, queria arrancar aquele troço que prendia minha cabeça. Eu já estava me sentindo sufocado. Eu rezava ou pelo menos tentava. Entrava em oração pedindo para que acabasse logo.

Quando terminou, e começaram a retirar todas as parafernálias, era um alívio para mim. O especialista perguntou se eu sentia algo e fui verdadeiro, disse que não sentia nada. Fomos para a sala que minha mãe me aguardava e ele disse para nós que se, caso mais tarde eu viesse a sentir algo, que comprasse um medicamento chamado Dexametasona 4mg (para maiores detalhes sobre este medicamento acesse: http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=10815932015&pIdAnexo=2995050), e seguisse um tratamento para fins anti-inflamatórios. Então retornamos para a casa da dona Olga. Lá, não demorou muito, cerca de uma hora depois do procedimento, comecei a sentir algo. Uma dor lá dentro do ouvido. Aquilo me incomodava, era ruim. Alarmei e minha mãe, conforme o especialista havia alertado, foi à farmácia mais próxima e comprou o medicamento. Tomei-o e fui me deitar. Naquele dia, comecei um tratamento à base de corticoides. Eu já era obeso, não o quanto fiquei no final do tratamento, hipertenso, mas não foi o suficiente para que, embora sabendo disso, o especialista optasse por este medicamento.

Como eu já havia perdido a audição deste ouvido, a única coisa diferente que eu senti, foi essa dor. A surdez continuava do mesmo jeito. Outro ponto que eu gostaria de destacar, foi que desde o início do tratamento na capital, todos os médicos me perguntavam se eu sentia alguma tontura. Mas eu nunca senti, pelo menos não no começo. Mas dias depois desse primeiro procedimento, as tonturas começaram a surgir, eram leves, mas eu já as notava.

Um mês depois, e agora com quilos a mais pois, o corticoide estava me causando efeito colateral, de engordar, de ficar inchado, retornamos à capital para a radiocirurgia no ouvido esquerdo, o qual minha audição era o suficiente e muito embora fosse muito estranho escutar somente por lá, mas ainda era compensatório.

Então, fomos novamente para a ala oncológica do mesmo hospital, fazer o mesmo procedimento. Sobre isso, será a PARTE IV. Convido-vos a clicarem em breve na aba PARTE IV, onde contarei o que houve realmente e que foi o início de um calvário em minha vida pois, foi a partir deste tratamento que perdi completamente a audição esquerda também. Em breve postarei. Grande abraço!