PARTE IV

PARTE IV

 

Pessoal, meus relatos são bem sofridos nesse momento, não se deprimam. Não fiquem muito tristes, tenham calma, vou contar coisas bem agradáveis ainda. Momentos de vitória na minha vida e que devem incentivar vocês. Mas farei isso nas próximas abas.

Então, fomos novamente para a ala oncológica do mesmo hospital, fazer o mesmo procedimento, só que agora no ouvido esquerdo e sempre lembrando do que o especialista falou em que no da direita, o perdido eu não iria recuperar, mas o da esquerda, seria preservado.

Foi o mesmo suplício. Já era setembro e meu abalo ainda continuava. Então, deitar ali novamente e ficar com o rosto dentro de uma caixa de novo, para mim era uma tortura. Mas eu tinha de fazer, foi a única alternativa que haviam nos apontado e o prêmio de consolo de preservar a audição esquerda, me dava forças para continuar. Mas aconteceu algo que eu não consigo entender. Na ocasião eu achei ter escutado o especialista ter perguntado se teriam regulado a dose de radiação corretamente (essa informação, minha família e amigos não sabem. Saberão ao ler esta postagem) mas como eu estava depressivo, a palavra é essa, me via num início de depressão. Devido a este abalo, que só sabe quem passa, eu não tenho certeza de que ouvi isso mesmo. Fiquei de olhos fechados durante o tratamento e como ouvia ainda, embora de olhos fechados, eu achei ter escutado este diálogo sobre a potência da radiação. Mas pode ter sido uma peça que minha mente naquele momento me tenha pregado, diante de minhas preocupações. E assim passei pelos infindáveis 20 minutos de radiocirurgia e, mais uma vez, no momento do término, eu não sentia nada. Novamente o especialista tornou a repetir que se sentisse algo, dexametasona novamente. Sendo que eu já tinha deixado de tomar porque as dores no ouvido direito tinham passado.

E foi como da outra vez, na casa da dona Olga, momentos depois, comecei a sentir algo estranho no ouvido esquerdo, o qual eu ouvia perfeitamente. E tentei me acalmar, mas não conseguia. As dores estavam aumentando e antes de alarmar, porque eu já tinha dó de minha mãe em está sempre sobressaltada por minha causa, eu fui me deitar, esperando que passasse, mas em menos de 5 minutos, o que eu temia aconteceu: meu ouvido esquerdo parou de ouvir. Tapou completamente. Levantei da cama em desespero e fui até a sala onde todos conversavam e com cara de espanto disse para minha mãe o que estava acontecendo. Minha mãe saiu feito um louca atrás de uma farmácia que vendesse essa dexametasona. Ela demorou voltar. Teresina uma cidade grande, mas já era tarde da noite e foi difícil achar uma farmácia ali perto, funcionando.

Tomei o remédio e fui descansar. Mamãe ligou para o especialista e ele disse para manter a calma e esperar pelo efeito do remédio. De fato, horas depois a audição voltou. Mas não era a mesma coisa. Se eu fosse atribuir uma porcentagem de como ficou, eu diria que daquilo que eu escutava, eu tinha perdido mais que a metade. Mas ainda ouvia. Não alarmei que tinha perdido algo, porque eu estava numa situação deprimente. Eu não estava legal, eu já não atinava mais para nada. Eu parecia um zumbi. Eu simplesmente estava me entregando. E voltamos para casa.

Aqui, embora eu evitando de falar sobre como me sentia, meus pais já tinham notado que eu não escutava mais como antes pelo ouvido esquerdo e foram aos poucos me fazendo atinar para este detalhe que em meu psicológico, eu me negava a refletir sobre isso. Então eu assumi que sim, que não estava do mesmo jeito, que eu tinha perdido algo. Minha mãe ligou para o especialista, contou o que estava acontecendo e resolvemos voltar para a capital novamente. Fizemos outra audiometria e foi comprovado que eu tinha perdido alguma percepção. A resolução do especialista foi tentar nos encaminhar para testes com AASIs (aparelhos de amplificação sonora), o famoso aparelho para surdez. Lembrando que meu abalo psicológico só aumentava. Já estava findando outubro. Retornamos para casa, a fim de refletirmos (menos eu, que não conseguia) o que fazer. E seria pela prefeitura daqui de Parnaíba, o pedido dos AASIs pelo SUS. Acreditem, mesmo em meio a toda esta situação emocional, eu ainda estava trabalhando. Eu fazia questão. A fim de tentar espairecer e não ficar pensando somente nisso. Como já estava findando o ano letivo, disse para minha mãe aguardar mais um pouco. E não entramos naquele momento como o pedido pelo SUS.

Não demorou muito e já estava findando novembro. E eu me afundando em depressão. Já não ia mais para todos os meus trabalhos da época pois, eu trabalhava em duas escolas: uma na minha cidade e outra no estado do Maranhão. Continuei indo na da minha cidade, mas já estava para não aguentar.

Então chegou dezembro de 2014. Findando o ano letivo e já tinha perdido praticamente mais de 80% da audição do esquerdo. Era o que eu sentia, mas não conversava com ninguém sobre isso. Eu não aceitava o que estava acontecendo. Já tinha perdido a audição do ouvido direito, agora só me restava cerca de 20% do esquerdo. Mais uma vez eu não conseguia atinar. Eu estava deixando a vida me levar. Mas quando perdi também os 20%, eu não podia mais fazer de conta. Já era por volta do dia 19 de dezembro de 2014 quando eu fiquei completamente surdo. Lógico que alarmei. Fiquei desesperado. Minha família ficou desesperada junto comigo, porque não foi o que o especialista prometeu. Ele falou que iria ser preservada e no entanto, eu tinha perdido completamente e foi um processo mais acelerado que o da audição direita, porque para eu perder completamente a audição do ouvido direito, comecei a sentir em 2009, como vocês leram no começo dos meus relatos e só a perdi completamente em 2014. Mas essa, eu não sentia perda alguma e contando a partir da data do tratamento, em menos de 3 meses eu tinha perdido minha audição esquerda.

Mamãe ligou novamente para o especialista e ele não sabia explicar o que tinha acontecido. Pediu que aguardássemos que logo retornaria. Acreditamos que ele foi atrás de alguma opinião amiga. Horas depois ele retornou e disse que eu precisaria fazer um tratamento que ele chamou de corticoterapia, um tratamento à base de corticosteroides, o famoso corticoide que eu já tinha tomado e já vinha tomando desde a dor no ouvido esquerdo, a Dexametasona. Mas desta vez, seria diferente, ele, o especialista, propôs que fosse na veia. Disse ainda que estava de licença no consultório dele e, devido nosso desespero e por morarmos há 4 horas de lá, que fica na capital, ele propôs que me internassem aqui em minha cidade e que passássemos o contato dele para o médico plantonista aqui, que ele explicaria. Depois vou falar mais sobre esse momento do qual fomos numa clínica famosa aqui em Parnaíba. Mas por hora, é lógico que o médico não aceitou. Discutiram ao telefone (eu surdo, não faço ideia do que falavam e depressivo, nem procurei saber) e retornamos para casa sem nenhuma solução.

Meu psicológico nesse momento estava para explodir. O especialista tornou a ligar e disse que não teria outro jeito há não ser voltarmos para a capital e lá sermos internados e atendidos por um amigo dele no hospital que ele atende. E assim o fizemos. Era mais ou menos dia 21 de dezembro quando fui internado em Teresina para tomar corticoide na veia. Eu e minha mãe que sempre está ao meu lado. Passamos 3 dias e meio internados e eu tomando incansavelmente corticoide e nada da audição voltar pois, segundo o especialista, era desinflamando que voltaria. Mas não voltou. Minha mãe relata que já ia para o quarto dia de internação. O médico não falava em alta. Ela me via inchando de forma incontrolável, devido o medicamento e como já era natal no dia seguinte, ela pediu alta e dia 24 nos foi concedida. Voltamos para casa, eu inchado, depressivo, surdo e minha mãe triste por tudo. Não víamos motivos para celebrar o natal. Toda a família, irmãos e sobrinhos se preparando para a celebração, mas eu não, fiquei no quarto deitado, chorando, triste e enchendo Deus de perguntas, por que aquilo tudo estava acontecendo comigo?

O médico especialista não tinha explicação. A certeza que temos foi que o que ele havia prometido não foi cumprido. Eu esperava e tinha como consolo de que o tratamento no ouvido esquerdo fosse realmente preservar a audição, mas foi o contrário e ele não sabia se explicar.

Esperamos janeiro de 2015 e o fim do recesso dele, do especialista. E, enquanto isso, eu cá definhando e inchando ainda mais pois, ainda estava me acabando de tomar Dexametasona, porque muito embora tenhamos voltado para casa, foi nos receitado continuar o tratamento com comprimidos. Desde quando descobri o problema, eu pesava cerca de 93 kg, até esse momento eu já estava na casa dos 150 kg.

Lá, no consultório dele, na capital, já em janeiro, ele passou exames novamente, como a ressonância magnética e outra audiometria, para entender o que poderia estar causando e confirmar a perda total do ouvido esquerdo. E eu os fiz.  Como achados, o laudo da ressonância sugeriu necrose, que são células mortas e que ele, especialista, atribuiu à radiação e que isso era normal. Mas precisaria fazer uma cirurgia, abrir para a retirada destas células.

Ora, não fazia muito sentido. Pensem comigo, se a radiocirurgia foi indicada por não ser uma boa opção fazer uma cirurgia convencional, devido os nervos auditivos e facial e toda a complicação de que poderia me trazer, de que adiantou se eu agora teria de fazê-la? Nos pareceu mais uma vez que o médico estivesse perdido. Mas quem daria o aval seria o mesmo neurocirurgião que indicou a rádio. E lá fomos nós, encaminhados para este profissional e ele observou o encaminhamento por escrito do especialista, observou ainda os exames que tínhamos acabado de fazer e disse não ser uma boa ideia a cirurgia e esperarmos mais tempo para ver a evolução do tratamento da rádio. Pediu que voltássemos para casa e com 6 meses voltássemos para falar com ele e fazer novos exames. Ou seja, aquilo nos confirmou que o especialista realmente estava perdido.

Aqui, vou pular esses 6 meses de como eu fiquei definhando em casa, mas em outras abas falarei sobre eles. Quero apenas dizer que com estes 6 meses de espera, retornamos e fizemos os mesmos exames e nada tinha mudado, a não ser que nos achados da ressonância, foi verificado, em comparação com os exames anteriores, uma diminuição nos mini tumores e, partindo deste resultado, o médico neurocirurgião, achou, mais uma vez, não ser preciso fazer cirurgia e esperar. O que me restou foi apenas esperar. De 6 meses, ele falou agora que teríamos de retornar em um ano, ou seja, de ano em ano para fazer acompanhamentos.  Por minha conta, sem minha mãe saber, eu já tinha deixado de tomar os corticoides. Eu não me sentia bem com eles. De tão inchado, eu mal conseguia tomar um banho. Depois, mamãe telefonou para o especialista, a fim de saber sobre parar de tomar o medicamento e pedir um laudo médico. Porque era preciso para protocolar no meu local de trabalho, devido eu já não ir mais trabalhar com tamanha depressão. Tivemos de ir lá, percebemos ainda que ele estava nos evitando. Lá, o especialista passou uma explicação por escrito de como ir abandonando o medicamento e nos entregou o laudo. No laudo, para nosso espanto, vinha escrito algo que não fora o que nos foi dito verbalmente. Lá, ele afirmou que nós éramos cientes de que a radiocirurgia poderia me causar a perda auditiva esquerda. E assim ficou a palavra dele, contra a nossa. E voltamos para casa. Eu, completamente surdo, inchado e sem solução alguma para isso.

Então pessoal, aqui encerro esta aba, a qual falei tudo sobre como descobri a surdez e do diagnóstico e de como de fato aconteceu para eu ter ficado completamente surdo. A próxima aba vou falar sobre a surdez em família e amigos. Porque agora surdo e sem solução alguma para isso, tive de retornar para casa e lidar com família e amigos e vou contar tudo para vocês. Grande abraço e até breve na próxima aba: A SURDEZ EM FAMÍLIA E AMIGOS. Que fica logo abaixo dessa.